O QUE APRENDI DA VIDA ATE AGORA
Com outra denotação eis minha nova
vida.
Com meus pés calejados, nesses meus cinquenta e três anos, tenho aprendido a duras penas, andar sozinha.
Já escrevi minha história na areia, o mar veio e apagou, não deixou nada para ser lembrado, nada para sofrer, nada para sorrir, apenas apagou porque não era importante. Fiz todo trajeto da subida, conheci o lado bom da vida, e fiz também o caminho inverso, a descida, a tristeza, a angústia e a dor. Conheci o sabor doce da vida e agora terei o adoçante como sabor diet.
Diante d'uma nova realidade eu converso com meus sonhos, e também interrogo-os. Como é que pude ser tão distraída, dispersa a ponto de ser surpreendida com tantos desgostos?
Não vou olhar dentro da escuridão, procurando a luz perdida num túnel qualquer que a vida teima em me colocar. Arranho a vida, seguro-a pelos cabelos ate eu ter um sorriso frouxo e leve, mesmo que embaçado entre lágrimas. Sei que ando sussurrando pra vida ter pena de mim. Mas minha razão vem, dá-me uma severa bronca, quem precisa de pena? Eu!
Sou um retrato inacabado e borrado numa parede d'uma sala abandonada. Esperando a mão do artista que venha terminar a obra e coloque um sorriso sutil e sereno na face borrada.
Neste momento sou uma nota musical que vaga procurando um bom ouvinte e que entenda a suavidade e a sua delicadeza. Sou uma canção inacabada num rascunho qualquer, sob um móvel empoeirado que o compositor perdeu a inspiração.
Sou aquele pássaro que aproveitou um descuido e escapou de sua prisão, mas que não sabe mais voar porque suas asas estão cortadas.
Sou livre... mas não consigo pular as muralhas que se levaram ao meu redor.
Que retrato feio esse que estou pintando de mim, nesse instante em que divago no silêncio de minh'alma.
O verão chegou quente e está indo embora deixando como lembrança o dia, o mês, o ano e a estação que descobri-me diabética. Amigos na tentativa de animar, me assustam, outros tantos com palavras de alento, uns com medo juntamente comigo. Outono virá e as folhas estendidas no chão farão o tapete macio, onde meus pés deverão seguir... com medo? Não!
Sou regrada quando se faz necessário, poderia ter sido antes, não fui. Agora não posso mais olhar pra trás e lamentar o que deixei de fazer, nada mais mudará. O ontem nao existe mais, o amanhã ainda nao nasceu... resta-me o hoje, e hoje estou cuidando bem de mim, mesmo que temerosa, medrosa, chorona e apreensiva.
Sou otimista? Muito! Mas por favor, preciso desse tempo de lamentação, desse "chororô" pra erguer-me do chão novamente, sacudir a poera e dar a volta por cima.
Com meus pés calejados, nesses meus cinquenta e três anos, tenho aprendido a duras penas, andar sozinha.
Já escrevi minha história na areia, o mar veio e apagou, não deixou nada para ser lembrado, nada para sofrer, nada para sorrir, apenas apagou porque não era importante. Fiz todo trajeto da subida, conheci o lado bom da vida, e fiz também o caminho inverso, a descida, a tristeza, a angústia e a dor. Conheci o sabor doce da vida e agora terei o adoçante como sabor diet.
Diante d'uma nova realidade eu converso com meus sonhos, e também interrogo-os. Como é que pude ser tão distraída, dispersa a ponto de ser surpreendida com tantos desgostos?
Não vou olhar dentro da escuridão, procurando a luz perdida num túnel qualquer que a vida teima em me colocar. Arranho a vida, seguro-a pelos cabelos ate eu ter um sorriso frouxo e leve, mesmo que embaçado entre lágrimas. Sei que ando sussurrando pra vida ter pena de mim. Mas minha razão vem, dá-me uma severa bronca, quem precisa de pena? Eu!
Sou um retrato inacabado e borrado numa parede d'uma sala abandonada. Esperando a mão do artista que venha terminar a obra e coloque um sorriso sutil e sereno na face borrada.
Neste momento sou uma nota musical que vaga procurando um bom ouvinte e que entenda a suavidade e a sua delicadeza. Sou uma canção inacabada num rascunho qualquer, sob um móvel empoeirado que o compositor perdeu a inspiração.
Sou aquele pássaro que aproveitou um descuido e escapou de sua prisão, mas que não sabe mais voar porque suas asas estão cortadas.
Sou livre... mas não consigo pular as muralhas que se levaram ao meu redor.
Que retrato feio esse que estou pintando de mim, nesse instante em que divago no silêncio de minh'alma.
O verão chegou quente e está indo embora deixando como lembrança o dia, o mês, o ano e a estação que descobri-me diabética. Amigos na tentativa de animar, me assustam, outros tantos com palavras de alento, uns com medo juntamente comigo. Outono virá e as folhas estendidas no chão farão o tapete macio, onde meus pés deverão seguir... com medo? Não!
Sou regrada quando se faz necessário, poderia ter sido antes, não fui. Agora não posso mais olhar pra trás e lamentar o que deixei de fazer, nada mais mudará. O ontem nao existe mais, o amanhã ainda nao nasceu... resta-me o hoje, e hoje estou cuidando bem de mim, mesmo que temerosa, medrosa, chorona e apreensiva.
Sou otimista? Muito! Mas por favor, preciso desse tempo de lamentação, desse "chororô" pra erguer-me do chão novamente, sacudir a poera e dar a volta por cima.
Se cuida é tudo que mais ouço.
Não tenho outro caminho a não ser o
tal "se cuida". Tudo que precisei fazer está
feito, médicos especialistas, nutricionista, psicóloga e medicamentos. tudo que
se faz necessário por ora está sendo feito. Só não posso prever o futuro, nem
posso mudar o rumo dessa prosa.
Mas por favor, agora eu preciso chorar, preciso lamentar, preciso gritar, preciso rasgar essa angústia que se instalou no meu ser.
Não sei mais o que quero da vida, ou seja, sei sim, mas estou preferindo chorar, rasgar essa angustia ao meio ate ver o fim desse medo todo.
Sei que feixes de luz ultrapassarão as cortinas anunciando boas novas e voltarei sorrir novamente, sabendo que há vida lá fora.
Como não posso pegar um vôo nas asas d'um cometa e fugir da realidade, nem posso fazer como Raul Seixas pedir assim: Oh! Oh! Oh! seu moço do disco voador me leva com voce pra onde voce for... Oh! Oh! Oh! seu moço, mas não me deixe aqui enquanto eu sei que tem tantas estrelas por aí....
Mas por favor, agora eu preciso chorar, preciso lamentar, preciso gritar, preciso rasgar essa angústia que se instalou no meu ser.
Não sei mais o que quero da vida, ou seja, sei sim, mas estou preferindo chorar, rasgar essa angustia ao meio ate ver o fim desse medo todo.
Sei que feixes de luz ultrapassarão as cortinas anunciando boas novas e voltarei sorrir novamente, sabendo que há vida lá fora.
Como não posso pegar um vôo nas asas d'um cometa e fugir da realidade, nem posso fazer como Raul Seixas pedir assim: Oh! Oh! Oh! seu moço do disco voador me leva com voce pra onde voce for... Oh! Oh! Oh! seu moço, mas não me deixe aqui enquanto eu sei que tem tantas estrelas por aí....
Vou deixar passar esse tempo
nublado, de temporais com raios e trovões sob minha cabeça e esperar, porque
dias melhores obrigatóriamente
virão. Ficarei abrigada sob o teto da
esperança, sabendo que dias melhores virão.
O que me conforta agora é saber que minha mãe conviveu com a doença durante quarenta anos e teve dias felizes, alegres, festivos... e não foram poucos, foram anos e anos de alegria, mas ela foi muito amada. Sinto tanta saudade dela. O convívio dela com a doença foi passifico, nem a doença a provocou e nem ela deu chance pra ambras brigarem.
Hoje, agora, neste instante em que divago, gostaria de voltar no tempo, onde ser criança era rolar na grama no sítio da tia Nenê e tio Nizio e os animais eram selvagens. Onde o rádio do tio Nizio, ás 5 horas da madrugada, sintonizado nas ondas médias, musicas caipiras a todo volume anunciava mais um dia de luta na roça para os homens, serviços domésticos e cuidar das "criações ( animais)" era tarefa das mulheres... e a criançada solta naquele mundão sem porteiras. O cheiro do café feito no fogão de lenha e a polenta sapecada na chapa. O queijo fresco, o leite fresco, e o salame no porão com mofo na casca. Ovos mexidos, suco de uva e o vinho tinto perfumando e tingindo o copo. O pão caseiro provocando a fome, as cucas alemãs recheada de grãos de uvas, o doce duro de marmelo, as chimias de todo tipo de frutas, as compotas de doces e de legumes. O frango não era sertanejo, era caipira mesmo, o torresmo prensado...
As artes da criançada, os banhos no minúsculo riachinho. O pinhão sapecado nas grimpas sob o velho pinheiro. O boi bravo correndo atras da criançada entre gritos e risadas. Sulfatar a parreira puxando a mangueira ate nossos ombros descascar. Os figos comidos pelos passarios e outra metade era nossa porque eram os mais doces. As dálias e flores exóticas no jardim...
Tratar os porcos no chiqueiro, as vacas na estrebaria... brincar na carroça indo buscar melancias... brincar na montanha de milho em espigas dentro do paiol. Cair dentro do riacho porque o cavalo se inclinou pra beber agua no riacho. A horta sem agrotoxicos repleta de tudo que se possa imaginar de verduras, legumes e temperos.
O que me conforta agora é saber que minha mãe conviveu com a doença durante quarenta anos e teve dias felizes, alegres, festivos... e não foram poucos, foram anos e anos de alegria, mas ela foi muito amada. Sinto tanta saudade dela. O convívio dela com a doença foi passifico, nem a doença a provocou e nem ela deu chance pra ambras brigarem.
Hoje, agora, neste instante em que divago, gostaria de voltar no tempo, onde ser criança era rolar na grama no sítio da tia Nenê e tio Nizio e os animais eram selvagens. Onde o rádio do tio Nizio, ás 5 horas da madrugada, sintonizado nas ondas médias, musicas caipiras a todo volume anunciava mais um dia de luta na roça para os homens, serviços domésticos e cuidar das "criações ( animais)" era tarefa das mulheres... e a criançada solta naquele mundão sem porteiras. O cheiro do café feito no fogão de lenha e a polenta sapecada na chapa. O queijo fresco, o leite fresco, e o salame no porão com mofo na casca. Ovos mexidos, suco de uva e o vinho tinto perfumando e tingindo o copo. O pão caseiro provocando a fome, as cucas alemãs recheada de grãos de uvas, o doce duro de marmelo, as chimias de todo tipo de frutas, as compotas de doces e de legumes. O frango não era sertanejo, era caipira mesmo, o torresmo prensado...
As artes da criançada, os banhos no minúsculo riachinho. O pinhão sapecado nas grimpas sob o velho pinheiro. O boi bravo correndo atras da criançada entre gritos e risadas. Sulfatar a parreira puxando a mangueira ate nossos ombros descascar. Os figos comidos pelos passarios e outra metade era nossa porque eram os mais doces. As dálias e flores exóticas no jardim...
Tratar os porcos no chiqueiro, as vacas na estrebaria... brincar na carroça indo buscar melancias... brincar na montanha de milho em espigas dentro do paiol. Cair dentro do riacho porque o cavalo se inclinou pra beber agua no riacho. A horta sem agrotoxicos repleta de tudo que se possa imaginar de verduras, legumes e temperos.
Nós, as crianças brincar de guerra
de merda de vaca. Fabricar brinquedos, escorrecar nas cascas dos
coqueiros...
Quem teve uma infância como eu tive não pode reclamar da vida.
Mesmo morando na pequena cidade, sendo eu, uma menina urbana, nossa Disney era passar todas nossas férias na casa da tia Nenê. E resmungar muito de ter de voltar pra casa e ir pra escola. Férias lá na tia era julho e final de anos, na epoca, dezembro, janeiro e fevereiro...
Quem teve uma infância como eu tive não pode reclamar da vida.
Mesmo morando na pequena cidade, sendo eu, uma menina urbana, nossa Disney era passar todas nossas férias na casa da tia Nenê. E resmungar muito de ter de voltar pra casa e ir pra escola. Férias lá na tia era julho e final de anos, na epoca, dezembro, janeiro e fevereiro...
Hoje, somente saudades e
lembranças, ótimas lembranças.
Deus sabe onde essa minha estrada terminará e como. Sei apenas que vivi tudo com muita intensidade. Não posso prever nada, nem posso antecipar nada. Não quero previsões assustadoras, quero apenas crer que milagres existem, eu sei que existem...
Marilena Salete Ribeiro
Videira - Santa Catarina
28/2/2013
Este texto encontra-se protegido pela Lei Brasileira nº 9.610,de 1998, por leis e tratados internacionais. Direitos autorais
Deus sabe onde essa minha estrada terminará e como. Sei apenas que vivi tudo com muita intensidade. Não posso prever nada, nem posso antecipar nada. Não quero previsões assustadoras, quero apenas crer que milagres existem, eu sei que existem...
Marilena Salete Ribeiro
Videira - Santa Catarina
28/2/2013
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